Deborah acorda e vai pra sala. Encontra Cássia na janela escancarada. Ela não olha a paisagem, olha pra cima.
-Oi.
Cássia se vira, seus olhos borrados de lápis preto estão mais vivos do que nunca. Ela sorri.
-Eu acho que encontrei. Vem.
Deborah se aproxima. Cássia põe o pé descalço no sofá, toma impulso e sobe na janela. Está com os dois pés no parapeito, elegante como uma ginasta em cima da barra. Uma ginasta alta, de cabelos sujos e soltos, calça jeans e olhos borrados.
Ela vira o corpo para Deborah, inclina a cabeça pra trás e se esforça para ler algo escrito no alto, nas paredes de fora do prédio.
-O segredo… – ela se inclina mais, pois o sol ofusca sua visão. O segredo para toda…
Os pés se movem paralelos, em busca do resto do enigma. É Cássia quem corre o risco de cair, mas é Deborah quem está tensa. Não tira os olhos da irmã e levanta os braços sem perceber, como se precisasse se equilibrar mesmo estando com os pés plantados no assoalho de madeira.
-O segredo para toda felicidade… Estou quase conseguindo! – diz, pulando de euforia.
Deborah vai até a janela enfim e olha pra baixo. Vê a quadra esportiva de linhas quase apagadas e um parquinho com brinquedos de cores pálidas. O corpo de Cássia não combinaria em nada com este cenário. Seus cabelos pretos quase azuis, olhos azuis quase brancos e sangue vermelho quase preto, em tudo destoariam da paleta de cores aguadas do chão. Ainda assim, a cada passo, Deborah teme que Cássia encontre o concreto morno e dele não se separe mais.
-O segredo para toda felicidade… do mundo… é…
Caramba… lindo texto… até arrepiou.
Dá um ótimo curta heim!
;)
uau, Dea, bem bom!